"Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos lares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que quando chegam os atletas exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! Mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. [...] Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste."
Paulo Mendes Campos, "Para Maria da Graça"
É incrível como as pessoas estão sempre querendo se destacar, sempre querendo (aparentar) ser melhores do que as outras. Vivemos sempre em função de outras coisas - quase sempre de não tanta importância - que nos elevem em relação aos outros. É como meu professor de química me disse outro dia: "Tudo é uma relação de compra e venda".
Estudamos para um dia ter um bom emprego, ganhar dinheiro e comprar TVs, carros, casas e outras coisas para podermos nos sobressair sobre nossos vizinhos. Eis aí a luta de classes da qual Karl Marx falava.
Mas... e daí? E depois que conseguimos tudo o que queremos? Acaba a graça? Não há mais graça em ganhar num jogo de damos depois que já o conseguimos. Talvez haja no homem um vácuo, um buraco muito grande, que nunca conseguirá ser preenchido (nunca mesmo?), e que nós tentamos compensar com coisas materiais e com "competiçõezinhas" bobas. Talvez seja melhor, então, NÃO CONSEGUIRMOS as coisas... Que ficassem no mundo das ideias! O amor idealizado e não alcançado talvez seja melhor do que aquele que conseguimos realizar e perceber que não era tudo o que esperávamos. E nunca vai ser. Por mais coisa que consigamos, sempre quereremos mais e mais, e nunca será aquilo por que estávamos esperando.
Para que, então, correr? Para que, então, competir? Para que se apressar em conseguir as coisas, sendo que quanto mais as conseguimos, mais estas ficam sem graças. começamos a sonhar mais e mais alto, e querer coisas cada vez mais difíceis? Que concluir? Tomemos posse, então, das palavras do pregador:
"Vaidade de vaidades, diz, o pregador, tudo é vaidade..."
Salomão, Eclesiastes 1:2